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Espontaneidade fez de Maria Beltrão a 'rainha do improviso' na GloboNews

Publicada em: 19/10/2021 12:02 - Famosos

Primeira jornalista a ser contratada quando o canal de notícias foi criado, há 25 anos, hoje Maria Beltrão comanda três horas de programação todos dos dias debatendo grandes temas da atualidade


Maria Beltrão estava no oitavo período do curso de jornalismo. Tinha 25 anos e pouca certeza do caminho que seguiria na profissão. O mais provável era que trabalhasse na redação de um jornal impresso, talvez na seção de economia, tema que havia estudado por dois anos na universidade.

Para o vídeo, sabia que não dava. Além de grande demais (ela tem 1,81 metro), tinha gestos largos e mexia com as mãos sem parar. Também era espontânea em excesso, o desastre da turma de expressão em vídeo de Alice-Maria Reiniger na faculdade. Assim, quase caiu dura quando recebeu o telefonema da ex-professora. “Tem um projeto aí, um canal de notícias. Quero que você vá para o vídeo.” Alice só poderia estar louca. “Você mesma dizia que não levo jeito”, respondeu a foca. “Nunca falei que você não levava jeito. Eu dizia que você não nasceu para o jornalismo convencional.” Pausa. “Surpresa: vamos revolucionar o jornalismo!” Ela entrou em pânico. “Mas comigo?”.

Vinte cinco anos depois, é difícil dizer quem nasceu primeiro: a jornalista Maria Beltrão ou a GloboNews. Antes de o canal ser criado, a maior competência que um apresentador tinha que ter era ler bem o teleprompter. “A gente foi aprendendo esse novo jeito de fazer jornalismo junto com o telespectador”, diz Maria. Para o tal “novo jeito” que o canal de notícias que não desliga se propunha a criar (e cumpriu), era perfeita.

“Muito bem informada, inteligente, espontânea e bem-humorada, desde a primeira vez que vi a Maria percebi que a câmera era apaixonada por ela”, declara Alice. “O tempo mostrou que eu não estava enganada”, conclui a mestra.

O começo foi complicado. O público tinha a mesma impressão. Ao menos, o que mandava e-mails para a redação, que ela fazia questão de ler. “A Maria Beltrão é muito ruim”, diziam. Ela ficava nervosa, perdeu as contas de quantas vezes pediu demissão.

Visionária, Alice pedia calma: “Você tem valor. Ainda não deu para mostrar porque não é só a GloboNews que tem que criar esse novo tipo de jornalismo. O telespectador brasileiro também vai ter que se adequar a um canal que é 24 horas. Em que a notícia chega, você se retifica, volta. A gente vai ter que furar essa bolha”. Mas Maria não queria papo. “Me deixa ir embora, sou péssima.”

Passaram-se cinco anos até ela se sentir segura. Era 11 de setembro de 2001, as torres gêmeas do World Trade Center, símbolo do poder econômico americano, haviam acabado de ser destruídas e ela precisou ficar dez horas no ar. Mudavam os âncoras, os correspondentes, e Maria continuava no comando da cobertura.

Simultaneamente a suas falas, traduziu o [ex-presidente dos EUA George W.] Bush e o [ex-presidente francês Jacques] Chirac. Junto do telespectador, foi entendendo o que era Al-Qaeda, quem era Osama bin Laden, o que o Talibã tinha a ver com o atentado terrorista. Quando chegou em casa, chorou copiosamente. Nesse dia, a GloboNews mostrou sua vocação para estar no ar sem interrupções, e a jornalista assumiu que dava para a coisa.

A espontaneidade que tanto criticavam virou assinatura. Logo ela estava ensinando os mais jovens a fazer jornalismo sem TP, dando palestras para o pessoal da TV Globo e as emissoras afiliadas. E, quem diria, virou referência num tipo de jornalismo informal. “A rainha do improviso”, diverte-se. 

Se tem uma coisa com que Maria não se acostuma é com esse lugar. A sua referência, na televisão, ela tem na ponta da língua: Hebe Camargo. Segundo conta, foi a apresentadora que fez com que ela insistisse na carreira à frente das câmeras.

Quando completou um ano de casa, Maria chegou à conclusão de que estava na hora de ir embora. Havia levado uma bronca enorme de um chefe porque falou um nome errado, se sentia deprimida. Era um sexta-feira quando pediu demissão e foi com as amigas chorar as mágoas em um karaokê. “Você não é aquela gracinha da GloboNews?”, perguntou a voz que tanto admirava. Era Hebe, a própria.

E não é que, depois de umas taças de vinho, Maria achou por bem desabafar com a apresentadora? “Sou horrível na televisão. Os telespectadores me acham estranha, ninguém gosta de mim”, disse chorosa. “Para com isso agora. Você está num canal que começou há um ano, tudo isso é normal”, respondeu a voz da razão. “Não desista!” A noite terminou com um dueto de Maria e Hebe cantando “New York, New York”. 

Para segurar um programa ao vivo de três horas, o Estúdio i, que vai ao ar de segunda a sexta, Maria começa a trabalhar às 8h30, de casa. “Se eu ficar na redação, não tem jornal”, brinca, confirmando a fama de conversadeira. Assiste a todos os jornais do canal para achar um ângulo diferente da notícia que vai continuar em pauta no seu horário. Com o editor-chefe, Rodrigo Caruso, define os temas do dia. Às 11h30, vai para a TV fazer make e cabelo. Sai do programa exausta. Em casa novamente, dorme um pouco e faz ioga. Só volta a ver notícia no fim do dia.

Sua versão lazer, conta, não é viciada em notícia. Mas em ópera, séries, poesia, vinho. A nova paixão, no entanto, são os lenços, echarpes, ponchos e cachecóis que herdou da sogra e ganharam espaço em seu Instagram. E nessa modalidade adora ser referência. “As pessoas hoje me procuram para falar de amarração de pano”, diverte-se. Looks do dia também viraram comuns em sua conta pessoal. “Durante a pandemia, comecei a ser entrevistada na área da moda”, conta. A mania surgiu da necessidade de falar de temas menos noticiosos com o público.

“A Maria traz o afeto em primeiro lugar”, diz a atriz Dira Paes, que há quatro anos apresenta o Oscar ao lado da jornalista. “No camarim, na frente das câmeras, ela acolhe todo mundo com suas palavras e gestos”, completa. “Aprendo sempre com ela.”

Hoje, mesmo sentindo a tão comum síndrome de impostora toda vez que volta de férias, sabe de sua importância na maneira como os âncoras atuais se comportam em frente às câmeras. Sente-se orgulhosa, claro. Nem por isso espera ser lembrada como grande jornalista.

No frigir dos ovos, quer comunicar alegria, ainda que nem sempre seja possível. “Gosto mesmo quando me param na rua e dizem: ‘Ai, Maria, eu adoro a sua gargalhada’.” A gente também é fã, Maria.


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