Live do Valor em parceria com O Globo, Marie Claire, Época Negócios e rádio CBN nesta quinta-feira (29) vai reunir especialistas para discutir a questão
A pandemia prejudicou
a saúde
mental de 73,8% dos mais de 500 profissionais
entrevistados em uma pesquisa da Fundação Dom Cabral e Talenses Group. Entre os
pesquisados, 53% conhecem alguém que tenha sofrido burnout -
um estado de estresse crônico causado pelo trabalho que leva à exaustão física
e emocional.
Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) mostram que o Brasil
é o país mais ansioso do mundo e o quinto mais depressivo. “Com esse cenário,
entendemos a necessidade urgente de discutirmos o papel das organizações sobre
o tema e as ações necessárias em prol da saúde mental dos colaboradores”,
afirma Carlo
Pereira, diretor-executivo da Rede Brasil do Pacto Global da
ONU. Ele participará da live do Valor “Vamos
falar de saúde mental nas empresas”, nesta quinta-feira, dia 29, às 14 horas, e
que pode ser acompanhada pelo site e redes sociais do Valor.
O
debate é uma iniciativa em parceria com O Globo, Marie Claire, Época
Negócios e rádio CBN, com o
patrocínio da Amil.
Para Paul Ferreira, professor de gestão estratégica e
diretor do Centro de Liderança da FDC, o tema da saúde mental nas empresas já
vinha ocorrendo com grande intensidade e foi agravado com a tensão e a fadiga
extremas provocadas pela pandemia. Ferreira, que coordenou a pesquisa citada no
começo desta reportagem, comenta sobre um estudo de 2019 da Internacional
Stress Management Association com nove países que mostrou o Brasil no segundo
lugar em nível de estresse no ambiente de trabalho, ficando atrás somente do
Japão.
Na visão de Ferreira, que também participará da live, quatro principais fatores
levam a esse cenário: excesso de trabalho, subutilização de propósito,
liderança autoritária e ambiente e contexto de trabalho inadequados. “Outro
ponto de tensão que pode levar ao burnout relaciona-se com a questão infindável
sobre como equilibrar trabalho e vida pessoal e seus profundos impactos no
bem-estar.”
Nesse contexto em que é urgente falar sobre saúde mental no
ambiente corporativo, a Rede Brasil do Pacto Global da ONU e a InPress Porter
Novelli, em parceria com a Sociedade Brasileira de Psicologia (SBP), lançaram
neste ano o #MenteEmFoco,
um movimento que convida empresas e organizações brasileiras a reconhecer a
importância da saúde mental no ambiente de trabalho e a agir em benefício de
seus colaboradores e da sociedade como um todo. Um dos objetivos é combater o
estigma e o preconceito social ao redor do tema.
“Boa parte da vida adulta é dedicada ao trabalho, e a
experiência com o local laboral é um dos fatores que ajudam a determinar o
bem-estar geral de um indivíduo. Muitas empresas entenderam a importância de se
adotar práticas de saúde mental e bem-estar com seus funcionários, mas poucas
são as companhias que olham o tema sob a perspectiva preventiva”, diz Pereira.
Depressão e ansiedade custam
US$ 1 trilhão à economia global por ano, segundo a OMS, ocasionando perda de
produtividade e competitividade para as empresas. “As lideranças executivas
começaram a entender a importância de cuidar de pessoas para manter a
sustentabilidade de seus negócios, integrando o tema saúde mental à pauta da gestão
estratégica das empresas”, afirma o diretor da Rede Brasil do Pacto Global da
ONU. Para ele, as empresas também são responsáveis pelo impacto na saúde dos
seus funcionários, e por isso que é tão importante que a responsabilidade seja
compartilhada.
“A pandemia deixou clara a necessidade de as empresas repensarem
seus programas de saúde mental e bem-estar”, diz. “Mesmo em empresas com
iniciativas robustas e estruturadas, ouvimos relatos de aumento significativo
no estresse geral dos times.”
Para Lisiane Bizarro, da Sociedade Brasileira de
Psicologia, as mudanças no trabalho, na sociedade, na economia e no meio
ambiente que vinham sendo sinalizadas há alguns anos foram precipitadas no
contexto da pandemia. “O tipo de trabalho, suas condições e a conciliação com
as mudanças na vida pessoal trouxeram muitos desafios”, afirma. “Isso
sensibilizou as pessoas para olharem para quem está presente em todas essas
mudanças e nas consequências que elas terão: o ser humano.”
Para ela, que também
participará do debate, a organização do trabalho, condições inadequadas, o
assédio moral, o burnout e o sentido do trabalho são fatores sob controle das
empresas que são bem conhecidos por influenciarem a saúde física e mental dos
trabalhadores. “Esses fatores de risco psicossocial são complexos e difíceis de
entender, pois representam as percepções e experiências do trabalhador”,
explica. “Alguns se referem à pessoa, outras às condições ou ao ambiente de
trabalho. Contudo, as consequências são tanto individuais quanto organizacionais.”
Segundo ela, a prevenção dos fatores de risco psicossociais no trabalho obriga
a um envolvimento ativo e dinâmico da organização e dos trabalhadores. “As
empresas oferecem trabalho formal e renda, mas também podem diminuir os
estressores ocupacionais e entender que todos os colaboradores, incluindo os
gestores, estão expostos a riscos à saúde mental em seus contextos de vida,
especialmente em países em desenvolvimento.”
O médico Leandro Pereira Garcia,
gerente médico sênior de gestão de saúde populacional na Amil/UHG, ressalta
que, para as empresas, o impacto da deterioração da condição mental da
população se dá em várias frentes, como o aumento dos custos diretos em saúde e
a queda na produtividade em função do absenteísmo e do presenteísmo - quando o
colaborador está na empresa mas não consegue desenvolver o trabalho de forma
adequada. “Estima-se que, nesta década, depressão será a principal causa de
absenteísmo”, afirma. “A queda na produtividade reflete em um pior desempenho
econômico, que realimenta o ciclo. Assim, falar de saúde mental nas empresas
hoje é urgente, por uma questão humanitária, por uma questão competitiva e para
auxiliar na recuperação econômica do mercado em que elas mesmas estão
inseridas.”
ADRIANA FONSECA
COLABORAÇÃO PARA MARIE CLAIRE
28 ABR
2021