Um mês após alta, músico falou ao G1
sobre os piores momentos da internação, quando ficou com 75% do pulmão
comprometido e quase teve uma parada cardíaca. Recuperado, ele brincou: 'Já
estou até cantando Galopeira'.
Um mês após receber alta do hospital com Covid-19, o
cantor Edson, da dupla com Hudson, ainda divide os sentimentos entre o alívio
pela cura e as lembranças da internação, quando chegou "bem perto" de
morrer, como ele mesmo define. Sem sequela, o artista aproveita a nova chance
com o retorno, aos poucos, à sua rotina normal e agora mantém na ponta da
língua, além de canções eternizadas na história do sertanejo, todos os detalhes
do período de medo e sofrimento em que esteve com a doença.
Em
entrevista exclusiva por telefone ao G1, Edson esmiuçou a recuperação e todo o
apoio que recebeu da família, médicos e amigos, além de relembrar passo a passo
como foram os 13 dias que passou internado e precisou ficar na UTI de um
hospital em São Paulo. Ao chegar à unidade com 75% do pulmão comprometido, o
cantor conta que fez um apelo à equipe médica: evitar ao máximo a intubação
pela apreensão de prejudicar a voz e não poder voltar a exercer a profissão
como antes.
"Eu pedi para a doutora pelo amor de Deus para não ser intubado,
por causa da minha voz. Eu tinha essa preocupação, isso rondava muito a minha
cabeça, eu pensava: será que eu não vou poder mais cantar para as pessoas? Ela
olhou pra mim e falou: em três dias você vai levantar dessa cama. Eu senti
muita firmeza nela, e foi o que de fato aconteceu. Não fui intubado",
contou o artista.
A "doutora" a qual Edson se
refere é a intensivista Ludhmila Hajjar, que chegou a recusar um convite
para assumir o Ministério da Saúde, e é apontada pelo cantor
como a responsável, "abaixo de Deus", pela sua cura. O músico de 46
anos, que mora em Indaiatuba (SP), foi diagnosticado com coronavírus, iniciou o
tratamento em casa, mas foi levado no dia 3
de março a uma unidade do próprio município do interior de
São Paulo.
Cinco dias depois, com o agravamento da
doença, o artista foi transferido para
o Hospital São Luiz, na capital paulista, onde chegou a ficar
cinco dias na UTI e recebeu alta no dia 15 de março. Antes de sair, Edson
cantou para a equipe médica e fez postagens em seu perfil
no Instagram para agradecer o apoio e as orações. Ele ainda ficou um dia em
um hotel de São Paulo antes de regressar a Indaiatuba.
'Foi por muito pouco'
O irmão de Hudson, com quem soma 17 álbuns lançados desde 1995, conta
que o momento mais difícil da internação foi quando ele precisou ir para a UTI.
O pulmão, que começou com 25% de comprometimento no início da doença, passou
para 75% em poucos dias e preocupou muito os médicos. Depois de ir com urgência
para um leito de terapia intensiva, Edson chegou a ficar com a pressão em 8 por
5 e quase teve uma parada cardíaca.
"Eu quase choquei. Eu quase tive uma parada cardíaca. A máquina que
aponta os batimentos do coração chegou a começar a apitar, aí a equipe que
estava lá viu que eu ia chocar, me sacudiram e eu voltei. Foi por muito pouco.
Foi a vontade de Deus de me dar mais uma chance. Eu aprendi que a gente não tem
nenhum poder de escolher quando a gente vai morrer", relembrou o
sertanejo.
Depois do maior susto, ele reagiu bem aos medicamentos e usou uma
máscara facial VNI, que auxilia na respiração e, em alguns casos, substitui a
intubação. Passados os cinco dias de UTI, o cantor foi para o quarto, iniciou a
fisioterapia e aguardou a alta médica. "Eu também dei sorte do meu corpo
reagir bem. Infelizmente tem gente que não reage, a gente tem visto tanta gente
morrer. Eu dei sorte e também fui obediente. Fiz tudo o que os médicos
mandaram", explicou.
O artista lembra que começou a sentir os primeiros
sinais da Covid-19 quando voltou de uma viagem à Bahia com a esposa. Ao chegar
em casa, descobriu que algumas pessoas da família tinham testado positivo para
a doença, inclusive a filha, que não foi viajar com os pais. Segundo ele, os
sintomas foram dor de cabeça, muita falta de ar, febre forte, e perda de olfato
e paladar.
"Minha
esposa já tinha testado positivo e eu no primeiro exame testei negativo. Aí
teve um dia que estava voltando de um barbeiro que eu vou em Limeira e tive uma
dor nas costas e uma pontada no peito. Liguei para um médico amigo meu e ele
falou: Edson, você está com Covid. Pode ir fazer o teste de novo. Eu fiz, deu
positivo e depois surgiram todos esses outros sintomas", disse.
'Já estou cantando Galopeira'
Recuperado, o músico não faz mais fisioterapia e não sente nenhum
resquício da Covid-19. A única herança que ficou do tratamento foi o remédio
anticoagulante, além de vitaminas. O medo de não poder cantar mais e, claro, de
morrer, foram eliminados e deram lugar à volta da rotina.
Semanalmente, o sertanejo faz uma "batalha musical" em seus
Instagram, onde pede para os seguidores escolherem a música que ele vai cantar
aos sábados. [veja acima trechos retirados do perfil dele
na rede social].
A voz, reconhecida no meio como uma das mais talentosas e afinadas do
segmento, ficou totalmente preservada. A confiança é tanta que Edson até
brincou estar conseguindo cantar "Galopeira", clássico de Chitãozinho
e Xororó, famoso pelo refrão esticado e com notas altas.
"Eu me sinto totalmente curado. Minha voz está normal. Estou com
fôlego. Já estou até cantando Galopeira. Estou cantando tudo, até no hospital
eu puxei uma moda para os meus médicos. É o que eu amo fazer. Eu falo que Deus
me capacitou pra isso, ele até me deixou mais gordinho e com bochecha pra poder
ficar mais confortável pra alcançar as notas", brincou o cantor.
Apoio de sertanejos e próximos
projetos
A força de Edson na música sertaneja foi provada com a corrente de
mensagens e orações feitas por vários artistas do segmento à época de sua
internação e também durante a recuperação. Entre os nomes que fizeram questão
de manter contato com o cantor e a esposa, Andreia Cypri, a quem o músico
também reverencia pelo apoio incondicional na doença, estão Zezé di Camargo,
Chitãozinho, Zé Neto (da dupla com Cristiano), Gusttavo Lima e Rodolffo (da
dupla com Israel), que estava no Big Brother Brasil e só ficou sabendo do que o
amigo passou quando deixou a casa, há uma semana.
"Esse apoio é muito importante. Eu me senti muito acolhido. O Zezé,
por exemplo, me ligava todos os dias. Foi muito bom saber da preocupação das
pessoas. E eu também quero mostrar esse apoio, tanto que entrei em contato com
a assessoria do Paulo Gustavo [o humorista está internado há um mês com Covid-19
em estado grave] para oferecer a minha solidariedade", completou.
Hudson também ficou o tempo todo ao lado da família. Agora, a dupla
volta as atenções para os próximos projetos. Para 2021, ainda está previsto o
lançamento de um DVD, nos mesmo moldes de "Amor + Boteco", lançado em
2019, onde eles cantam grandes sucessos do sertanejo. Além disso, o
planejamento é começar a idealizar o volume dois do álbum "Edson e Hudson
Na Moda do Brasil". A primeira edição do CD, gravada em 2007, marcou a
carreira dos cantores.
Por
Marcello Carvalho, G1 Campinas e Região
16/04/2021